Mônica Vermelha

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quinta-feira, 6 de março de 2014

Da Copa, das Olimpíadas e da Política!

Tenho lido vários artigos nos blogs que frequento que questionam, tal como eu, a validade dos protestos contra a Copa e dois argumentos, dos quais compartilho, são frequentes: o primeiro é que os protestos estão sendo manipulados por setores ultra-reacionários que se escondem atrás de máscaras para promover o caos e a instabilidade e assim forçar uma queda nos índices de aprovação da nossa presidenta-candidata Dilma Roussef; o segundo é que tal movimento chega tarde, muito tarde, quando praticamente todos os gastos já foram feitos e boicotar a Copa agora seria apenas uma atitude pouco patriótica que não beneficia "ninguém" e aumentaria significativamente os prejuízos para o país. Neste sentido, um comentarista, (que não me lembro o nome e nem de qual blog) fez uma sugestão interessante: que tal mudar o nome do movimento para "nãovaiterolimpíadas"?
Sim, porque este é o momento para questionar os gastos excessivos, as desapropriações/remoções arbitrárias, os desvios e superfaturamento de obras para as olimpíadas etc que justificam a indignação dos brasileiros efetivamente preocupados com o bem-estar do nosso povo, este é o momento, porque talvez ainda dê tempo de reverter o processo ou de alterar drasticamente o rumo das coisas, sem causar um prejuízo maior ao Brasil.

Bom, mas tenho visto também vários outros argumentos que me parecem bastante interessantes, entre eles de articulistas que demonstram que o Brasil perde infinitamente mais com a sonegação de impostos ou com o aumento da taxa de juros, ou com o monopólio dos meios de comunicação, ou com o autoritarismo/partidarismo/corporativismo do nosso sistema judiciário, ou com a injustiça gritante de nosso sistema tributário no qual os pobres pagam muito mais imposto do que os ricos, ou com a inépcia dos governos municipais e estaduais que, na maioria das vezes, são os maiores responsáveis pelas agruras que atingem o cidadão, ou contra a incompetência e má fé do nosso congresso nacional... e os cidadãos não protestam contra nada disso. Ora, por que não? Alguns responderão que essas são questões mais abstratas das quais o cidadão comum não tem muito domínio, mas, convenhamos que o povo se manifestou em massa contra a PEC 37, em junho de 2013, sem ter a mínima noção do que isso significava de fato, levado por reportagens e comentários tendenciosos da nossa mídia "democrática"! 

Tem inúmeras outras causas que mereceriam ser encampadas pelos cidadãos brasileiros como a demarcação das terras indígenas, a desmilitarização das polícias, a reforma política, a criação do imposto sobre grandes fortunas, a reforma agrária... mas nada disso está em pauta! Por quê?  Porque são questões que não interessam aos "donos do poder" e portanto, jamais serão propagandeadas, difundidas e incitadas pelas nossas redes de televisão e revistas ou jornais de circulação nacional. E aqui é importante fazer uma distinção entre governo e poder, porque o PT está no governo, mas o PT não é o dono do poder no Brasil; aqui, os donos do poder são os donos dos grandes meios de comunicação, são os grandes banqueiros, os grandes empresários, todos "muito bem" representados no poder legislativo e abraçados aos nossos juízes. Se você, meu caro leitor, reparar bem verá que eles mandam em todos os governos, no judiciário e no povo brasileiro e que suas grandes armas são a mídia (através da qual mentem, manipulam e escondem verdades o tempo todo) e o congresso nacional que mantém e aumenta os privilégios através de votações totalmente contrárias aos interesses do povo brasileiro que, infelizmente, na sua maioria, não tem condições e/ou interesse em controlar/vigiar os seus representantes.

É claro que o governo do PT não é perfeito, está bastante longe disso, mas o argumento da governabilidade faz sentido sim porque para conseguir aprovar suas propostas (excelentes ou péssimas, indistintamente) têm que fazer alianças, acordos, oferecer vantagens a uma maioria de parlamentares que não apoiam propostas pela sua bondade ou justiça ou eficiência mas pelos benefícios que recebem e estes são parlamentares que o povo elegeu, em eleições dominadas pelo poder econômico e pela manipulação, mas elegeu. Ora, não seria mais coerente, que os cidadãos votassem em parlamentares que apoiassem o governo no qual eles votaram? Não seria mais coerente que os eleitores da oposição votassem em parlamentares da oposição, que eleitores da Dilma, por exemplo, votassem em deputados e senadores que apoiassem voluntaria e ideologicamente este governo?

Enfim, meu caro leitor, a política é decisiva, mas não é simples, é muito complexa e é um aprendizado e, provavelmente, será mais satisfatória se cada um de nós entendermos que o envolvimento, o senso crítico e a coerência são imprescindíveis a uma participação verdadeiramente cidadã, mas... isto, definitivamente, não é fácil de compreender e é muito mais difícil ainda, de fazer.

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