Mônica Vermelha

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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Em 1988 nós melhoramos um pouquinho o Brasil!

Amanhã, a Constituição Federal completa 25 anos e, apesar de todos os ataques e de todas as violações, a data merece ser comemorada. Exatamente no meio da década de 80, algumas lideranças sindicais, políticas e populares iniciaram um movimento pela participação popular na elaboração da Constituição e eu tenho muito orgulho de ter participado ativamente desta história.

Lembro-me que ainda em Itaúna montamos um comitê e o nosso principal trabalho foi a elaboração de vários dossiês dos partidos políticos (não era numa perspectiva de denúncia, não!) para que as pessoas pudessem conhecer os programas partidários, as propostas e o comportamento dos parlamentares de cada um dos partidos e, fundamentadas nessas informações, pudessem votar de forma mais consciente.
Foi um trabalho muito legal e acabamos conseguindo eleger alguns deputados e senadores - no Brasil inteiro - afinados/comprometidos com propostas populares como reforma agrária, democratização dos meios de comunicação (Deus do céu, como essa luta é antiga!!!), jornada de 40 horas, iniciativa popular, direitos das crianças e dos adolescentes e muitas outras "bandeiras". Em seguida mudei-me para BH e lá fui trabalhar, inicialmente como voluntária apesar de ser pobre como o Jó, no Comitê Pró-Participação Popular na Constituinte/Minas Gerais. Junto com pessoas politizadas, conscientes, generosas e progressistas como Carlos Morais, Maria Aldina, Soraia, Dazinho, Regina, Cebola, Célio, Rômulo, Maritza, Carlos da CPT, Cida, Márcio Godinho e tantos outros, fizemos inúmeros grupos de discussão, redigimos propostas, recolhemos assinaturas, fizemos o jornal Boca no Trombone, espalhamos material por todas essas Minas Gerais, montamos barraquinhas de coletas de assinaturas no Centro de Belo Horizonte e em várias outras cidades, conversamos com as pessoas, fizemos caravanas para levar as assinaturas até Brasília, fomos participar de algumas votações, denunciamos quem estava votando contra as propostas populares, enfim, fomos tecendo ponto a ponto uma rede imensa e bonita formada por pessoas que de fato queriam construir um Brasil melhor, mais democrático, mais justo, mais popular.

Algumas de nossas propostas foram acolhidas e hoje estão inscritas lá no texto Constitucional, outras foram inicialmente acolhidas, mas derrubadas depois, em vários arroubos conservadores que vivemos nestes últimos 25 anos, especialmente no Congresso Nacional  e outras não conseguimos aprovar porque naquelas épocas de União "Democrática" Ruralista-UDR e Centrão - bloco conservador que uniu todas as forças retrógradas do Congresso - não era nada fácil aprovar propostas mais avançadas. Lembro-me que no trabalho de coletar assinaturas conversávamos com as pessoas e lhes falávamos da importância de acompanhar/fiscalizar os parlamentares que elas tinham ajudado a eleger e lembro-me também que, normalmente, tínhamos mais de 10 propostas para apresentar aos cidadãos que só podiam assinar 3, mas queriam assinar todas; eu, particularmente, fazia um lobbyzinho em favor das emendas da iniciativa popular, democratização dos meios de comunicação e desmilitarização das polícias - há muito tempo que acredito que essas são lutas fundamentais - já que as propostas da reforma agrária, da saúde, da educação, direitos dos trabalhadores, defesa do meio-ambiente ... já tinham um número expressivo de assinaturas.   

Hoje revendo toda essa história penso que mais do que o produto final, o que fizemos de melhor foi o processo, tenho certeza de que as lutas daquele momento marcaram definitivamente as pessoas que nelas se engajaram, eu bem que gostaria de ter um registro visual daquele processo todo, gostaria muito de participar de novo de um movimento como aquele, claro que é muito saudosismo de minha parte, mas o que me encantou e o que me ganhou foi a absoluta clareza que tínhamos das nossas reivindicações, dos nossos objetivos, das estratégias, dos conflitos... não estávamos ali por oba-oba, por modismo ou por manipulação, estávamos porque tínhamos consciência de que direitos só se conquistam com muita luta, de que mudanças se constroem lentamente, de que a História pode ser feita por aqueles que sonham e lutam...

Infelizmente no Brasil o próprio Estado, algumas vezes, descumpre a lei, de tal forma que nem sempre uma lei boa é garantia de qualquer coisa e, obviamente, essa discussão acontecia naquele momento também, a ponto de algumas vezes nos questionarmos sobre a validade de todo aquele trabalho, mas ... o fato é que conseguimos fazer, apesar de várias derrotas difíceis de engolir, a Constituição Cidadã, uma das melhores do mundo e o processo com certeza foi um aprendizado muito grande. Amanhã é dia de parabenizarmos aqueles que naquele momento não se furtaram à oportunidade de escrever uma página bonita da nossa história.



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