Mônica Vermelha

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

O melhor de Machado de Assis.

Machado de Assis é um dos maiores escritores do Brasil e do mundo. Brilhante. Dentre as suas obras, destacam-se muitas como Dom Casmurro, Quincas Borba e o sensacional livro Memórias Póstumas de Brás Cubas. Eu gosto muito desse livro, nele está presente a finíssima ironia de Machado, uma crítica social contundente e muito bem informada e um humor ácido simplesmente maravilhoso.
Um defunto que vai “avaliando” moralmente os seus visitantes derradeiros com ironia, bom humor e sarcasmo inconfundíveis. É interessante também a perspectiva do defunto, trata-se de simplesmente constatar o caráter dos membros de uma classe social carcomida, fundada na superficialidade, na indiferença, na ambição e na arbitrariedade; e este autor maravilhoso propõe ainda reflexões muito interessantes sobre os privilégios de classe, sobre o racismo, sobre a hipocrisia social e várias outras mazelas típicas do homem rico e poderoso; eu acho realmente perfeito. As críticas sociais e a autocrítica são constantes nesse texto e o protagonista, ironizando a sua própria história, nos fala da “pobreza” humana, das ambições, das vaidades, dos devaneios e quimeras, das falsidades que marcam o caráter dos indivíduos das classes abastadas que vivem num mundo de atificialidades e superficialidades. E é interessante como é atual o romance de Machado, forjado nos idos de 1880, aborda questões como a importância das aparências, as ambições, os conchavos políticos, a prepotência e a arrogância das elites, os preconceitos, a exploração do trabalhador e outras peculiaridades dessa camada social; e o mais interessante é que Machado nos leva a perceber que aquelas mazelas não são típicas daquela sociedade, nem daquele tempo, nem daquele lugar; o autor desvenda sentimentos, discursos e comportamentos que são típicos das elites econômicas em todas as sociedades, em todas as épocas, em todos os lugares. Brás Cubas é alguém que não trabalha, inútil, um parasita que desrespeita todo mundo, consciente, mas inconsequente, ironiza e desconfia de todas as pessoas, não se afeta; vive num mundo onde reinam a hipocrisia, as aparências, a superficialidade, a exploração e o arbítrio absoluto de uma elite que se acha superior e onipotente. Num trecho brilhante dessa obra magnífica, referindo-se à D. Plácida (o nome é significativo!) o protagonista ironiza a “sina” da mesma, ao “justificar” a sua existência: “Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos nas costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez (…); foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia.” Cético, irônico, sarcástico e pessimista, Machado fecha a história gabando-se de não ter transmitido a ninguém “o legado da nossa miséria.”

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