Mônica Vermelha

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quinta-feira, 1 de março de 2012

Censura não, controle social!

A questão dos limites que, na minha opinião, devem ser impostos à imprensa é uma questão que normalmente exalta os ânimos dos que se entregam a esse debate. E, quando falo que limites precisam ser definidos é comum que alguns interlocutores me acusem de estar defendendo a censura, justo eu, que tenho muita consciência dos males infinitos que a censura causou ao nosso país, especialmente durante a ditadura militar. Não, não estou defendendo a censura, mas estou absolutamente convencida de que nenhuma instituição
ou poder pode ter liberdade e/ou poder absolutos numa democracia. É preciso por alguns pingos nos is.
Primeiramente, é preciso lembrar que nossas rádios e televisões, na sua grande maioria, são concessões públicas histórica e graciosamente entregues aos "amigos do poder". Todo mundo já sabe que a televisão especialmente, é uma fonte inesgotável de dinheiro e tem uma capacidade de "formar opinião" - quem quiser, pode ler "poder de manipulação", porque é isso mesmo! - simplesmente incomensuráveis. E aí é que a porca torce o rabo, porque, em função disso, alguns princípios que aqui precisavam ser sagrados: a busca da verdade, a imparcialidade e a função social da imprensa, não são sequer lembrados. Todos nós sabemos, eu não preciso nem argumentar, que nenhum dos nossos grandes jornais, revistas, estações de rádio ou emissoras de televisão sequer se lembra que esses princípios existem.
Infelizmente, e qualquer pessoa minimamente esclarecida sabe disso, por detrás de cada notíciazinha, por mínima que seja, tem um interesse, pelo menos, e, normalmente, não é um interesse altruísta ou popular. A nossa grande mídia é movida por interesses financeiros e partidários profundamente elitistas e são somente esses interesses que norteiam as suas decisões sobre o que, como, quando e onde publicar. São esses mesmos interesses que ditam o que deve ser transformado em manchete e o que deve ser abafado, escondido, esquecido, escamoteado. Enfim a imprensa, por causa desse poder sem limites, é quem define, neste país, o que deve ser pensado, discutido, aceito ou questionado. Nenhuma outra instituição tem esse poder, nem a família, nem a escola, nem o executivo, nem o judiciário, nem o legislativo, nem a igreja, nenhuma!
Ora, numa democracia todos os poderes precisam ter um controle e, muitos já argumentaram que a imprensa seria o poder credenciado a "vigiar" os outros poderes, mas não há dúvida, quando a imprensa não é popular, não tem nenhum compromisso com o povo, ela não só se descredencia como vigilante, como ainda dá mostras de que ela própria deve ser vigiada, preferencialmente por um conselho realmente popular.
Afora as infinitas notícias falsas e/ou deturpadas a que somos expostos a todo momento, os meios de comunicação social, devido à falta deste controle externo popular, devido à total falta de limites, devido ao seu total descompromisso com a democracia e com o povo, cometem um verdadeiro atentado cultural ao fazer uma programação repleta de enlatados, de violência, de maus exemplos, de vulgaridades, de programas deseducativos que corrompem a nossa cultura, os nossos valores, a nossa cidadania.
Eu não tenho dúvida nenhuma de que muuuuuuuita coisa na televisão devia ser proibida, é, proibida mesmo, só alguns, a título de exemplo: Big Brother, A Fazenda, Programa do Ratinho, Fina Estampa, Vidas em Jogo, Casos de Família... Ou alguém vai argumentar que essas porcarias fazem algum bem a quem quer que seja?  
Será que faria mal a alguém se tivéssemos uma imprensa livre, democrática e transparente? Será que a transparência que a imprensa não se cansa de cobrar dos outros poderes, não ficaria bem nela mesma? Será que faz algum sentido que organizações tão influentes tenham liberdade absoluta e gozem da total falta de limites? Será que a imprensa vai poder agir de forma leviana, desonesta, irresponsável, anti-democrática e deseducativa para sempre? Se a democracia é o governo onde o povo detém o poder, onde está o poder do povo nesse caso? Será que seria ruim se a televisão, por exemplo, fosse obrigada a exibir mais programas educativos e mais debates, a valorizar mais a nossa cultura, a propagar, explícita e implicitamente, valores como o respeito, a solidariedade e a paz, ao invés de desrespeito, consumismo, vaidade, violência, violência e violência?
Cito aqui, para corroborar a minha argumentação, uma fala de José Henrique Rodrigues Torres, presidente da Associação Juízes para a Democracia em entrevista a revista Caros Amigos nº 179/2012: "A liberdade de imprensa é garantida, não em favor dos jornalistas (eu diria: dos donos de jornais), mas, sim, do povo, que tem o direito à informação."
Enfim, não sou a favor da censura, sou a favor do controle social, sou a favor de que também a imprensa tenha que se submeter aos princípios da transparência, da democracia, da responsabilidade, da imparcialidade, da justiça e da soberania popular.

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