Mônica Vermelha

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cadeia: escola do crime.

Há muitos anos atrás, participei, em Itaúna, da fundação da APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados. Já naquela época, e ainda hoje, ouvia protestos indignados de pessoas bem intencionadas e inteligentes. "Como assim, proteção aos condenados??? E as vítimas??? Você está participando de um negócio que visa proteger assassinos, ladrões, estupradores etc?'
Bom, era meio difícil explicar, porque a pessoa que faz um questionamento nesses termos, normalmente, não está disposta a ouvir explicações. Mas o tempo passou, a APAC cresceu e a lógica que nos impulsionou naquele momento, continua tão válida quanto antes.
Quando um réu é condenado, a sociedade diz a ele, teoricamente: "você errou feio, cometeu um crime, você é perigoso para a sociedade, você vai ficar preso para pagar pelo que fez e para ver se você se emenda." E aí o criminoso vai para a cadeia para fazer duas coisas, basicamente: pagar pelo que fez e se recuperar. E é aí que "a porca torce o rabo".
Primeiro: pagar por um crime, é algo praticamente impossível, não se paga uma vida perdida, um trauma sofrido, nem mesmo um patrimônio perdido, porque raríssimas vezes a vítima recebe de volta aquilo que lhe foi tirado. E, sem fazer nenhuma reparação à(s) vítima(s) - o sistema penitenciário não lhe cobra isso - o criminoso é colocado na cadeia para "apodrecer" lá; aí ele vai sofrer todo tipo de privação, de humilhação, vai ser tratado como um lixo social. Moral da história: a idéia que fundamenta esse sistema não é a da justiça, é a lógica do "olho por olho, dente por dente", é a da vingança, e a vingança, todas as pessoas de bem já sabem, não faz nenhum bem a ninguém.
Segundo: bom a segunda parte é ainda mais dramática e absolutamente contraditória, a sociedade quer que o condenado, depois de passar anos sendo maltratado, humilhado, espancado (sim, a tortura segue reinando firme e forte nos nossos presídios, alguém duvida?), depois de fazer tudo para que aquele ser humano perca o seu último resquício de humanidade; ela quer que ele volte para o convívio social e se reintegre à sua comunidade. Bom isso só aconteceria se o condenado fosse um santo e convenhamos, não há muitos santos na prisão, há alguns santos sim, porque embora nos recusemos a pensar nisso, é fato inegável que a "justiça" erra e condena pessoas inocentes, talvez mais do que a gente ousa imaginar; mas isso é outra história.
O fato é que existe uma contradição letal no sistema: ninguém se recupera ou se ressocializa depois de ser lenta e profundamente animalizado, torturado, embrutecido, depois de ter a sua dignidade morta e sepultada. E um dia esse criminoso vai ser solto ou vai fugir da prisão (parece que ninguém pensa nisso!) e aí é a sociedade que vai pagar pelo seu crime. Sim o que se faz com os presos desse país é um crime, não é apenas um crime contra os criminosos, é um crime contra a sociedade que paga sofrendo o aumento da violência, vivendo cercada e aterrorizada constantemente.
Enfim, o nosso sistema penitenciário é um troço totalmente desprovido de sentido: ele pune mais a sociedade do que o criminoso e não recupera ninguém, só transforma pessoas em feras acuadas. Há que se rever tudo isso, para provar que somos civilizados!

Ps. Vale a pena conhecer a filosofia e os métodos da APAC.

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